Este é um espaço que se pretende aberto a quem goste de contar histórias e de andar nos turbilhões labirínticos das palavras e das cores como bouquês feitos de lâminas.
sábado, 1 de agosto de 2009
A LIBERDADE DO VERÃO
segunda-feira, 27 de julho de 2009
BURRA PENSADORA
quinta-feira, 16 de julho de 2009
domingo, 14 de junho de 2009
DE NOVO NO COMBOIO
" SERÕES DE PROVÍNCIA"
quarta-feira, 10 de junho de 2009
FAZER DE UM SEM ABRIGO UM AMIGO
segunda-feira, 1 de junho de 2009
UMA QUESTÃO DE NERVOS
segunda-feira, 25 de maio de 2009
domingo, 24 de maio de 2009
NOITE DE NATAL EM MAIO
quarta-feira, 20 de maio de 2009
LES MISERABLES
segunda-feira, 18 de maio de 2009
domingo, 17 de maio de 2009
sexta-feira, 15 de maio de 2009
I AM A BIRD GIRL
ANTONY : 14 DE MAIO DE 2009, Coliseu de Lisboa
segunda-feira, 11 de maio de 2009
ANTÓNIA, a fazedeira
domingo, 10 de maio de 2009
UMA MULHER DE 1900
Anos 70 em Portugal, um verão muito quente, uma família tradicional e um almoço de domingo igual a tantos outros. À mesa numa das cabeceiras a senhora, a dona da casa, no outro extremo o marido da filha. No lado direito, a menina (apesar dos seus quarenta e cinco anos) ao lado do marido, o filho e o sobrinho. Do outro sentavam-se os primos e a filha pequena.
Apesar de ser verão, a dona da casa exigia que tudo estivesse como ela queria e sabia. Toalha branca, direita como se acabada de engomar, copos para o vinho e para a água e guardanapos bordados envolvidos em pequenas alianças de prata com os monogramas de cada um dos presentes. Excepção para os pequenos que em vez das letras iniciais dos nomes tinham um menino e uma menina gravados tanto no guardanapo quanto na pequenina argola que as envolvia.
Estava um dia particularmente quente. Naquela época, o verão era verão e as estações eram bem delineadas no tempo. As estações e não só. Tudo tinha o seu tempo, não se comiam uvas em Março nem peru sem ser no natal, havia fatos de saída para os domingos, as crianças falavam pouco ou nada à mesa e tudo tinha o seu tempo e modo próprio de ser.
No entanto, naquele domingo passou-se qualquer coisa de anormal. O padrão sempre presente, neste cenário de conservadorismo, como que se esfumou por magia.
Esta história marcou a memória dos presentes nesse dia e tem sido contada aos mais novos da familia como prova de teimosia e autoritarismo para uns, coragem e exemplo de vida para outros. Como nisto dos factos, cada qual recolhe dos acontecimentos a parte que mais tem a ver consigo próprio.
Passemos então aos acontecimentos :
- O Sr. não vem para a mesa de camisa aberta. Não são propósitos de se estar a comer. Quem diz estas palavras é a velha senhora para o genro que por razões conhecidas mas nunca mencionadas nunca tinha aprovado aquele casamento e como tal nada melhor do que manter as distâncias de tratamento e não só.
- Ora essa, estou na minha casa, está calor e venho como eu me apetecer, responde o interpelado.
A esta altura dos acontecimentos, já todos os outros comensais se haviam calado. Sabiam que a altura era tensa e que de nada ganhavam em intervir, mesmo a filha e mulher dos dois oponentes, que baixando os olhos, adoptava a atitude submissa de sempre.
- Nesse caso, e como o calor não é só para o Sr., eu despirei também a minha camisa. A senhora levantou-se, desencostou um pouco a cadeira e ergueu-se. De repente, ela que já era alta, pareceu tão esguia como uma vara. Alta e magra, velha e seca. A pela enrugada e muito branca que já deixava ver a cor azul das veias. Nos olhos a vivacidade e a determinação de quem tem vinte anos. Saia preta e blusa de seda às bolinhas brancas e pretas. Os seus dedos esguios apenas adornados por uma aliança de ouro chapado abeiram-se da gola e começam a desabotoar os botõezinhos forrados do tecido da blusa. Chegou até se ver o inicio da renda preta da combinação.
Do outro lado da mesa, o genro levantou-se de um repente e abotoou a camisa, não sem antes protestar entre dentes estar em sua casa e não poder usufruir da liberdade de uma camisa desapertada.
A senhora sentou-se de novo, abotoou a blusa, apertou a mão da filha, virou-se para o sobrinho mais novo e disse com a voz mais doce deste mundo :
Podemos agora começar a refeição. Depois vais contar à avó todos os mergulhos de mar que deste hoje, está bem ?
quinta-feira, 7 de maio de 2009
AMIGOS
Ouvir o coração com musica e dançar com musica no coração.
Hoje fui feliz e sei porquÊ.
Coisa "pouca", amigos e muita amizade.
Sonhos, conversas, risos e sorrisos numa terra de fraternidade.
Somos assim, os N+Ó+S, afortunados na terra da amizade.
quarta-feira, 6 de maio de 2009
ESCREVER NA LIBERDADE
MUITO URGENTE :
Enviar um e-mail para
a.urgentes@amnistia-internacional.pt
Para aqueles que estão em perigo cada carta funciona como
"uma voz na escuridão"
terça-feira, 5 de maio de 2009
CARTA AOS SENHORES ENGENHEIROS.
- Sr. Engº, todos os que lá estavam tinham fome no olhar. Eu só tinha bolachas e chocolates para dar. Eles eram muitos, cada vez são mais.
- Não é possível, comida, eu já mandei dar.
- A sério? é que eles ainda não tinham comido o jantar e já passava da hora do deitar. Se me é permitido, aconselhava a prestar mais atenção. A fome torna os homens nervosos e depois são as brigas e as pancadas . Os turistas tiram retratos dos maus tratos, é perigoso para a imagem do governo.
- Aí tem razão, de facto terei de ter mais precaução. Não me faltava mais nada agora, dizerem que Portugal tinha fome e pancadarias , era país de de gritarias, romarias de garrafas de vinho e de cabeças rachadas.
- Já que me parece estar V. Exa. com tamanha preocupação, informo-o que também escasseiam a comida das carrinhas, o leite e o pão. E já agora se fosse possível a visita de um doutor ou de um enfermeiro, sabe que eles têm muitas maleitas que precisam de curas bem feitas. Tudo isto pode o Sr. Engº resolver ?
- Isso é fácil, vai ver. Vou reunir os conselheiros e as secretarias e tudo se irá fazer.
- Mas eles estão lá hoje, agora, a esta hora, não há tempo para esperar.
- Bem, assim não podemos conversar. Tem pressa e eu tenho mais com que me ralar. A paciência é uma grande virtude. Vai ter de saber aguardar.
- Então, não temos compromisso, uma data para uma nova reunião para vermos o ponto da situação?
- Olhe, eu agora estou com pressa. Marque com a minha secretária uma hora para o mês que vem que eu vou ver o que posso fazer, mas nada de pressões. Depressa e bem não há quem, nunca ouviu dizer?
Fome dentro de lisboa, nem pensar. Deve ser situação pontual. Falta de leite nas carrinhas de distribuição da comida, impossível. Só pode mesmo ser um problema de comunicação.
Uma noite em Lisboa, Maio de 2009, numa rua perto de si.
sexta-feira, 1 de maio de 2009
LIVROS EM FEIRA
segunda-feira, 27 de abril de 2009
O CONVENTO
a estrada para lá chegar desmaia na praia
a aia que a ouviu cantar, vem espreitar
vem mandar andar e não pular no ar.
no convento do tormento há uma janela amarela
quem lá vai abarca muros
feitos de pedra e cimento, são duros os muros
ficam de guarda e não aguardam os mais puros.
no convento com vento
tarda a pancada do nada
a catraia com pressentimento
do tempo brinca de fada
no convento do esquecimento, a aia aguarda
há-de chegar vindouros. limpa a gamela e a panela
à noite uivam mochos e chega a guarda fardada com farda dada e estragada
fala alto, vocifera impropérios, roldão de palavra estragada
falam daquela aia. olham para ela e fogem dela.
no convento do fingimento, tudo é falso
tudo leva descaminho no descampado do tempo
AURORA
aurora fala a rir da primavera
a prima vera vai lá ficar
no café, ante pé, aurora tira a caixa do rapé
a vera bera põe baton vermelho, diz olé e sai pelo seu pé
aurora já não dorme com canivete
tem medo de nos sonhos o perder
no braço direito a bracelete
no esquerdo a colher para comer
um dia, aurora vai com a aurora do dia
ora, ora, aurora, diz o padre
ora, que hora para se ir, diz o compadre
a aurora vai fugir, diz a tia com alegria
cansar de irritar, chorar de calar
enganar de consolar
aurora quer esquecer o ler
aurora quer morrer
aurora quer cantar.
A DES ... ESPERA
o equilibrista equilibra-se em posição difícil
o equilibrante é o que equilibra
a equilibração é a arte do equilíbrio
quem é equilibrado tem equipolência
sofre da doença da ausência da demência
de quem tem paciência.
a espera é demora, para quem quer agora.
porquê esperar e não espernear
o esperançoso receoso e temeroso teme em falar
abafa o tormento e não deixa de esperar.
não entende a razão da demora.
o que importa é o saber de ter ou ser
tanto desespera que não dá pela hora
de conhecer.
satisfação por fim, ou não.
tudo termina mal ou bem
o esperançoso, esse também
a esperança foi-se embora na boca do canhão.
domingo, 26 de abril de 2009
M. C. ESCHER
quinta-feira, 23 de abril de 2009
PERDER A REVOLUÇÃO
O MEU LIVRO
quarta-feira, 22 de abril de 2009
A SABEDORIA DOS POETAS
arroja olhares e risinhos miudinhos
beijo-lhe a mão com apreço e devoção
só não vi a lágrima desertora da solidão
quinta-feira, 16 de abril de 2009
ANTONY
No caso de Antony, a opera é a forma musical que mais se aproxima de si. Também aí existe um drama cujos diálogos são prodigiosamente cantados. No seu caso eu diria en... cantados.
O meu encontro com Antony foi puramente ocasional e fortuito. Nem sequer sou uma grande especialista em musica e nunca tinha ouvido falar dele. No entanto, fui. Entrei no Coliseu, sentei-me e aguardei. De repente a sala ficou escura e no palco uma figura vestida de negro com uma rede em forma de chapéu na cabeça. Silêncio total. A canção, lembro-me era triste, muito triste e as palavras fizeram-me viajar para lugares meus, impartilhaveis, noites em branco, dias sem rumos e durante o resto do espectáculo eu temi, chorei por aquilo que eu sabia serem os caminhos tortuosos dos sentidos e os percursos épicos de quem se deixa conduzir pelos sentimentos.
terça-feira, 14 de abril de 2009
FALAR DE CINEMA
Estes eleitos são responsáveis pela nossa glória e pedras angulares das nossas misérias e derrotas. Basta acreditar e sonhar que é possível.
Sala de cinema. Ano de 1993. Um casal de apaixonados. Ele cinéfilo, ela leitora compulsiva. Ambos grávidos do segundo filho. O filme : A insustentável Leveza do Ser, primaveras de Praga com muitos anos e um nome : Tomás era Daniel Day-Lewis . O Tomás tem hoje 15 anos.
Uma borboleta :” papillon”. Pequena e frágil mas lutadora abençoada na injustiça. A Ilha do Diabo nunca mais foi esquecida e Steve Mcqueen também não.
No dia 29 de Junho de 2003 as luzes da Broadway apagaram-se. Homenagem à morte de Katharine Hepburn, a feminista. Mulher que viveu na vida real a história de amor censurada pelos bons costumes da época. Spencer Tracy foi o companheiro de 25 anos.
O cinema conta histórias e as Vinhas da Ira não poderiam ser melhor contadas. Em tempos de fome, Henry Fonda dá o rosto à miséria e ao desalento da humanidade.
Maria Callas nunca pensou que ao gravar o disco, anos mais tarde um homossexual vítima de sida iria dançar a sua música agarrado a um tubo de soro. Tom Hanks chora, nós não. Apenas um nó na garganta que não se apaga mesmo quando o filme termina.
Tommy-Lee-Jones, o Durão, polícia destemido. Por mim recordo o seu rosto musculoso e o seu olhar no momento em que vê o filho morto. Está tudo dito. Não são precisas palavras.
Como Susan Sarandon quando decide pisar o risco e arriscar tudo em Thelma e Louise ou olha para o condenado à morte como se visse a própria humanidade. A ternura amarga dos seus olhos falam sempre por ela e por nós.
Mexicano, aspecto rude, parece sempre saído de um romance do Hemingway. Mas não, em Zorba ele dança nu na praia, a sua Sistaki e a nós apetece-nos abraça-lo e cantar também.
Com o William Hurt aprendi que uma dispensa pode ser arrumada por ordem alfabética.
O John Travolta leu-me das mais belas histórias que o cinema pode ler : Uma canção de amor.
Por fim, descobri que no quarto da Marie Antoniette existiam vários pares de ténis Old Stars.
Dustin Hofman mostra ser pai e Merly Streep escolhe ser mãe. O filme é Kramer contra Kramer e é impossível esquece-lo.
Almodovar. Pedro Almodovar, realizador, não actor.” Hable con ella”, diz Benigno. Falar com elas e com eles também, não é fácil mas não é impossível. Tentem, senão nunca vão saber o que elas e eles querem dizer e elas e eles têm muitas palavras para dar.
Era uma vez na América. Talvez o filme da vida de muitas pessoas. Aprende-se com ele a tristeza e a traição da amizade, mas também o amor e a justiça. Aprendemos a vida dos homens. De Niro é o actor perfeito, quase irreal e nós rendemo-nos incondicionalmente.
Quem não pensou ir buscar a velha bicicleta à arrecadação e guiar que nem um louco rumo a uma lua com um amigo secreto, não viu ET, o filme que mostra o melhor de nós. Spielberg faz isso muitas vezes. Não é um homem comum. Vê mas sobretudo sabe OLHAR e CONTAR.
Milk, bem na memória das pessoas. Sean Penn, tee-shirt branca, punho erguido. Manifestação pelos homossexuais. Sentada na cadeira do cinema, quis levantar-me e juntar-me a ele. Esta capacidade de empatia, de sentir o que nós sentimos e de olhar para um homem em que se acredita, tem Penn dentro e fora do palco. Aliar o génio à humanidade do homem, é um feito que nunca é demais aplaudir.
Voando sobre um ninho de cucos. A loucura. Jack Nicholson. Não há nada que mais se possa dizer quando o caos é caótico e a perfeição é perfeita.
Por fim que dizer de Al-Pacino. Não sei, só sei que para mim é o tal, aquele que está mais perto das estrelas que os outros todos. Dizem que tem os olhos mais tristes do cinema, se calhar é isso. Mas também já lhe vi os sorrisos mais belos e os olhares mais tirânicos. Por mim, quando ele morrer, irei colocar uma gravata preta, porei o meu melhor perfume e dançarei o ultimo tango até que o dia não nasça nunca mais.
Obrigado, Cinema… Paraíso.
domingo, 12 de abril de 2009
BROWNS IMAGINÁRIOS
John Lennon
Imagine there's no heavenIt's easy if you tryNo hell below usAbove us only skyImagine all the peopleLiving for todayImagine there's no countriesIt isn't hard to doNothing to kill or die forAnd no religion tooImagine all the peopleLiving life in peaceYou may say,I'm a dreamerBut I'm not the only oneI hope some dayYou'll join usAnd the world will be as oneImagine no possessionsI wonder if you canNo need for greed or hungerA brotherhood of manImagine all the peopleSharing all the worldYou may say,I'm a dreamerBut I'm not the only oneI hope some dayYou'll join usAnd the world will be as one
sábado, 11 de abril de 2009
MATEMÁTICOS E FILÓSOFOS.
Do homem velho que mora na esquina da praça de Praga.
Do Francês que um dia julgou ser poeta e abraçou a rua por liberdade.
São eles que querem reprovar o estar de fora. Nas crianças custa sempre mais.
Dos pés ninguém pergunta de quem são. O papelão e o cartão são as armas mais eficazes para o anonimato, que só a noite irá revelar.
As cruzes, essas são verdadeiras e recentes. Paris, o ano passado. Frio intenso e morrem mais sem abrigos do que o “ habitual”.
Por ultimo o olhar de quem está distante. Apenas ficam perto de nós na televisão. Campo de refugiados. Condição essencial de carência absoluta de humanidade.
Quem vê olha para o lado
Tapa os ouvidos ao outro
Que não fala
Para que não veja
É assim a desintegração, com duas excepções:
1ª) O integrador acontece nas ciências exactas. Trata-se de um aparelho eléctrico ou mecânico que efectua simplesmente a operação matemática da integração.
2ª) Quanto ao Integralismo não passa de práticas doutrinais integrais. Durante os séculos todas elas apelaram a novas mentalidades.
SEREMOS MATEMÁTICOS OU FILÓSOFOS ?
sexta-feira, 10 de abril de 2009
oLHARTE
quinta-feira, 9 de abril de 2009
os migrantes migram
os migrantes
migram
onde a nova terra começa
o sol brilha como um carrossel dourado
das profundezas da terra eis que chegam os homens
depois virão mulheres e crianças
lentas colunas de trabalhadores
são os migrantes
trazem miséria no bolso e trocam a luta por trabalho
recolhem-se em barracas feitas de lata
as mulheres comem peixe frito
os homens bebem vinho de garrafas sem rolha
as crianças arrancam fraldas esquecidas e putrefactas
os homens morrem num cemitério sem fim. Longe
as mulheres e as crianças também
a terra é castigada com os uivos dos que ficam
os homens trabalham, as mulheres também.
quarta-feira, 8 de abril de 2009
esmeraldaabril2009
esmeralda, mãe, 79 anos, pensionista, : assofada num sofá perto da janela
luísa : filha, 35 anos, manicura e desempregada, dobrada no café da rua
mário : companheiro de luísa, 27 anos, biscateiro e desempregado dedicado
rui : neto de esmeralda e filho de luísa. 11 anos, 3ª classe desfeita 2 vezes
vanessa : neta de esmeralda e filha de luísa : 14 anos, 6º ano de desviRgem
pê u tê a …
sexta-feira, 3 de abril de 2009
LUGARES FELIZES
As árvores da rua debaixo continuavam a fazer de concha para proteger os passeantes do calor e do sol do verão. Fechou os olhos e viu um balde e uma pá, uma toalha de praia, a mão da mãe na sua, os primeiros mergulhos aprendidos ao domingo com o pai.
Mais acima o caminho da casa. Da casa, do banho, do almoço, da sesta obrigatória, do lanche e das brincadeiras com o irmão. Da casa onde ficava o quarto de vestir da tia, com as caixas de sapatos, os chapéus de cetim, as bolsas de veludo, e os vestidos elegantes de outros tempos que vestia.
Da casa da Ana, boneca de loiça e corpo de serradura de bolinhas azuis que pertencera à avó.
Dos países imaginários, com mapas construídos pelo tio e dos índios guerreiros na busca da verdade e da justiça. Nunca eram maus esses indios.
Da casa onde aprendeu a revolução francesa, qual heroina romântica a discursar numa praça. Onde bebeu chá com Mao Tsé Tung e acreditou sermos todos iguais. E por fim na idade do amor deixou-se apaixonar pelo sorriso do homem mais bonito do mundo : Che e sonhou ser sua companheira e ir com ele ajudar todos os desprotegidos e oprimidos desta e doutras terras.
Tudo isso estava lá, no caminho da casa. A casa apenas restava nas memórias dela. As pessoas mais velhas já tinham partido. O Mao e o Che também e os ideais tinham dias. De repente num imenso dia de primavera sentiu-se rota, triste, de uma tristeza profunda. Sabem, aquela que não tem lágrimas e que amarga a alma.
Não devia ter voltado ali. Fora lá demasiado feliz.
Nunca devemos voltar onde fomos felizes.
quinta-feira, 2 de abril de 2009
RUGAS
Hora e meia de almoço de uma super mãe trabalhadora. Meia hora para ir e voltar, 90 minutos para compras e outras necessidades, tipo lavandaria, farmácia, sapateiro, etc, e dez minutos para comer uma sopa e um rissol, qualquer coisa dietético e com pouco valor calórico.
Centro Comercial. Nesse dia a compra é um verniz das unhas. Uma daquelas mega lojas de venda de perfumes resolve a questão. De caminho compra-se também um baton, não que faça propriamente falta uma vez que é quase da mesma cor dos 6 ou 7 existentes em casa.
Mas este não é bem da mesma cor e como está a chegar a primavera faz falta definitivamente.
Estas empregadas são tudo menos conhecedoras de perfumes, maquilhagem e de cosmética. No entanto sabem a regra e nunca a esquecem. De acordo com o valor da compra juntam no saco do cliente uma amostra de um perfume ou de um creme, assim como um agrado. Ou um grande desagrado como passo a contar:
De repente o mundo que pensava imperfeito apenas por outras razões,muito mais importantes, revelou-se brutal, abrupto, selvagem, animalesco e tudo devido à simples frase :
... Aqui está. Leva também estas duas amostras que são muito boas para as RUGAS ....
Muito sinceramente já não ouvi o resto. RUGAS, quem disse que eu tinha rugas que precisavam de cremes tão urgentemente ?
O resto da tarde foi passada a inquirir, tipo mesmo inquisição se achavam que eu tinha mesmo rugas A cara das pessoas foi elucidativa. O mais simpático que obtive foi serem provocadas por demasiado riso e que gordinha como era até tinha sorte, notavam-se menos.
Estava fora de questão deixar de rir. Quanto ao ser gordinha, alguma vantagem teria por ser gorda, detesto os inhas e os inhos, especialmente aplicados à minha pessoa.
No entanto a derrocada final ainda estava para vir. O marido concordou que de facto já havia no meu rosto uns traçosinhos (de novo os inhos) e que isso é normal mas que não ficava pior por isso. Disse mesmo, não compreender razão de tamanho alvoroço.
Porque será que os homens só sabem utilizar a regra da retórica politica nas empresas .
Uma mentira inocente também não faz mal a ninguém, sobretudo para quem geneticamente está capacitado a isso por nascença e convicção .
Pois é, rugas. Não há como evitar falar delas, viver e morrer com elas.
Tipo Coca Cola, primeiro estranha-se , depois paciência ENTRANHAM-SE.
quarta-feira, 1 de abril de 2009
ROUGE
"Entre palavras"
"Rouge"
Este ROUGE, realça uma preocupação com as formas e com as suas disformidades.
Pelos contornos limitadores que estabelecem fronteiras entre os traços figurativos e o resto.
Neste infinito estão sempre as cores, intensas, provocadoras, irónicas, nunca casuais.
As fronteiras apenas existem no nosso imaginário frágil e minimalista.
Encontradas muitas vezes numa tela, num traço, num esboço.
Talvez num possível ROUGE.
domingo, 29 de março de 2009
CARRINHOS DE RODINHAS COMO NÓS
De repente os obstáculos deram lugar ao verdadeiro grito do ipiranga :
Adeus, e até para a semana ...