Todos os dias o Homem alto e de chapéu entrava no café e pedia: um copo de leite frio e uma sandes de fiambre. A mesa era sempre a mesma: ao canto, voltada para a parede, ficava resguardada de todos os olhares e dos ruídos mais estridentes do café. Nunca ninguém lhe ouviu outras palavras a não ser: um copo de leite frio, uma sandes de fiambre e um obrigado seco sussurrado debaixo do bigode fino e ralo quando o empregado lhe entregava o troco. Foi assim durante vinte anos: vinte minutos entre as oito e as oito e vinte da manhã. Mil e seiscentas horas no total. Hoje, o homem não apareceu. No seu lugar, sentou-se uma rapariga de cabelo vermelho e pediu um café. Procurou uma mesa e apenas restava aquela voltada para a parede. Com relutância sentou-se voltada para a parede e pensou na incongruência de tal coisa : uma mesa de café voltada para uma parede.
Eu que todos os dias vou ao mesmo café apenas gostava de saber quem era o homem e a razão dele não ter aparecido hoje. Sentada à janela, sim que eu prefiro a luz, limito-me a imaginar a razão da sua ausência e decidi por exclusão de razões que o homem de chapéu preto tinha morrido.
Não faz mal, eu também não gosto de sandes de fiambre.
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