Este é um espaço que se pretende aberto a quem goste de contar histórias e de andar nos turbilhões labirínticos das palavras e das cores como bouquês feitos de lâminas.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

ANTÓNIA, a fazedeira


O seu oficio é fazer pequenas coisas. Coisas poucas, sem importância e relevância.

Tão ocas, balofas e tontas como comprar latas de coca cola zero e garrafas de água para a azia.

Apesar disso, não é fácil escolher, cada vez são mais diferentes e sempre iguais que a gente hesita e desconfia.

Só que quem faz as compras tem de saber escolher, senão sabe que o ralhar vai ter.

Começa cedo o seu dia. Sacode tapetes, põe a água a ferver e come a correr.

Engoma a roupa, estica a camisola, dobra o lençol, o ferro passa e repassa e a pilha nunca mais fica vazia e a tábua já assobia de tantos passeios.

Faz o pequeno almoço. Torradas, leite, café, chá e bolachas para a tia, coitada amortalhada no quarto qual manto do sudário estendido, dá peidos e gargalhadas na latrina de uma sinfonia.

Arruma os quartos, a sala, aspira e varre, faz o comer. Limpa a cozinha, estende a roupa, dá o comer à tia, sacode o gato, abana o pássaro e por fim faz o prato do jantar.
Em casa da tia não há monotonia.

Gosta do que faz, enquanto faz, desfaz e refaz tem tempo para pensar sem ousar perguntar.

É livre de não ter que dar respostas. Está feito e acabou-se e nunca se fartou-se.

Está na casa da tia já não sabe os dias. Muda e surda, o torresmo chamada Antónia, cuida da tia.

Sem comentários:

Enviar um comentário