Este é um espaço que se pretende aberto a quem goste de contar histórias e de andar nos turbilhões labirínticos das palavras e das cores como bouquês feitos de lâminas.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

O CONVENTO


no convento do rezar, a catraia arregaça a saia
a estrada para lá chegar desmaia na praia
a aia que a ouviu cantar, vem espreitar
vem mandar andar e não pular no ar.

no convento do tormento há uma janela amarela
quem lá vai abarca muros
feitos de pedra e cimento, são duros os muros
ficam de guarda e não aguardam os mais puros.

no convento com vento
tarda a pancada do nada
a catraia com pressentimento
do tempo brinca de fada

no convento do esquecimento, a aia aguarda
há-de chegar vindouros. limpa a gamela e a panela
à noite uivam mochos e chega a guarda fardada com farda dada e estragada
fala alto, vocifera impropérios, roldão de palavra estragada
falam daquela aia. olham para ela e fogem dela.

no convento do fingimento, tudo é falso
tudo leva descaminho no descampado do tempo
o incauto ignora o percalço, o ermida de sua natureza acata o ermo.
do desterro

AURORA


aurora fala a rir da primavera
a prima vera vai lá ficar
no café, ante pé, aurora tira a caixa do rapé
a vera bera põe baton vermelho, diz olé e sai pelo seu pé

aurora já não dorme com canivete
tem medo de nos sonhos o perder
no braço direito a bracelete
no esquerdo a colher para comer

um dia, aurora vai com a aurora do dia
ora, ora, aurora, diz o padre
ora, que hora para se ir, diz o compadre
a aurora vai fugir, diz a tia com alegria

cansar de irritar, chorar de calar
enganar de consolar
aurora quer esquecer o ler
aurora quer morrer
aurora quer cantar.

A DES ... ESPERA



o equilibrista equilibra-se em posição difícil
o equilibrante é o que equilibra
a equilibração é a arte do equilíbrio
quem é equilibrado tem equipolência
sofre da doença da ausência da demência
de quem tem paciência.

a espera é demora, para quem quer agora.
porquê esperar e não espernear
o esperançoso receoso e temeroso teme em falar
abafa o tormento e não deixa de esperar.

não entende a razão da demora.
o que importa é o saber de ter ou ser
tanto desespera que não dá pela hora
de conhecer.

satisfação por fim, ou não.
tudo termina mal ou bem
o esperançoso, esse também
a esperança foi-se embora na boca do canhão.

domingo, 26 de abril de 2009

M. C. ESCHER

AS NARRATIVAS EM IMAGENS

As histórias são contadas muito pelas imagens. A partir de um peixe mais ou menos agressivo ou de uma ave mais audaz, Escher é genial na forma como constroi o drama narrativo. A utilização de padrões regulares que tanto utiliza foi a base inspiradora deste trabalho. As transformações ou metamorfoses das formas e das cores obedecem a um padrão prédefenido. O génio continua ser Escher. A inspiração também. Os grandes mestres são mesmo assim : suscitam encontros sempre diferentes e únicos com a arte . Oferecem-nas aos outros como pedras preciosas dadas aos joalheiros : agora façam, experimentem, rasguem, risquem mas não desistam.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

PERDER A REVOLUÇÃO


Tinha nove anos. Era a idade que tinha, nem mais, nem menos, no 25 de Abril de 1974.
Na altura revoltei-me imenso : primeiro por não ter mais idade e não poder ir para o Largo do Carmo, tendo ficado o dia em casa. Segundo, não entender como depois de tantos anos à espera, o meu pai tivesse escolhido essa data para não estar em Portugal.
Ou seja, para mim na altura perdemos a revolução, eu e o meu pai.
A história, enquanto ciência, é a única a quem reconheço o critério rigoroso de análise da vida dos homens. Aos poetas e aos artistas também. Não obstante, as histórias pessoais são as que validam os factos. E nos fervores revolucionários as pessoas, individualmente entendidas são tomadas de uma "polis" rigorosa que fazem parecer jantares familiares ou reuniões de amigos em verdadeiras assembleias de senado. A esta classe de senadores eu fui assistindo como observadora/interventora, sobretudo quando era necessário colar alguns cartazes.
Este pequeno postit não é mais do que o meu 25 de Abril. Imperfeito, incompleto , faccioso, claro que sim. É a minha história do dia em que não tive aulas porque houve uma revolução em Portugal. Do que então aprendi e mais tarde descobri enforma ainda hoje a minha forma de ver e de pensar as coisas para mim mais importantes : o valor supremo da humanidade e o bem maior da liberdade.
Os dias quando nascem de facto não são todos iguais. Aqueles que nos marcam para sempre merecem um carinho especial. Tal como D. Quixote que li alguns tempos depois. As lições da capacidade da felicidade e do sonho nunca devem ser esquecidas mesmo que não passem de utopias utópicas que perseguimos durante toda a nossa vida.

O MEU LIVRO


“Escreve, se puderes, coisas que sejam tão improváveis como um sonho, tão absurdas como a lua-de-mel de um gafanhoto e tão verdadeiras como o coração simples de uma criança”

Ernest Hemingway


No dia Mundial do Livro recebi esta frase . Não pude deixar de a partilhar.


Desde já agradeço aos amigos do escreverescrever pelo óptimo presente.


E assim, eu vou escrever, não como o Hemingway, nem como todos os outros que li e que ainda lerei e com quem vivi e partilharei dos momentos mais belos da minha existência.


Vou escrever, escrevendo como só eu sei.

É esta a maravilha da escrita e da leitura. Com elas assumimos identidades verdadeiramente únicas e sublimes. Contamos e lemos histórias, apenas isso.


Nos campos verdes os passarinhos são azuis.

os rapazes bebem cervejas e fumam cigarros.

Epidermes, derme, acnes, cremes para os ouvidos...quis.

Os ouvidos ouvem os delírios dos homens e dos carros.

Os lirios amarelos são miudinhos como os mindinhos dos homens e dos rapazes também.

Os morteiros do Paul são Shyami...quis

Impotência, potência, prepotência dos cigarros,

dão prazência e fazem mortandência.

No parque os bebés e as mulheres pulam as cercas com prudência.

As Hienas tão pouco. Bebem do coco com paciência.

No topo do bosque, topo com folhas caídas com displicência.

Foi um elefante que ali passou com presencia.


Xana, 23 de Abril de 2009, Um Jardim em Lisboa.


quarta-feira, 22 de abril de 2009

A SABEDORIA DOS POETAS




a artista mordisca a ceia de mansinho
arroja olhares e risinhos miudinhos

beijo-lhe a mão com apreço e devoção

acato com júbilo o escárnio da rejeição
só não vi a lágrima desertora da solidão



Nota : este trabalho deriva de uma conferência ontem na Gulbenkian.

O tema era a solidão e a velhice.

A mestria e a sabedoria do escritor António Lobo Antunes.

Os tecnocratas renderam-se ao "riso dentro duma lágrima".

Eu também.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

ANTONY

Lembrei-me primeiro de Kandinsky, pintor, escritor e musico russo do inicio do século. De facto se há alguém que está próximo de Antony, é ele. Entende claramente que a arte na sua forma suprema só pode ser completa se for aglutinadora de sons, palavras e cores.
Verdadeiras operas de palavras e de musicas.

No caso de Antony, a opera é a forma musical que mais se aproxima de si. Também aí existe um drama cujos diálogos são prodigiosamente cantados. No seu caso eu diria en... cantados.

Com efeito, Antony não canta BRANCO. Por isso, ou se gosta ou se detesta, nunca se fica indiferente. A sua voz pura e única mas também estranha por vezes, tanto pode ser de um homem quanto de uma mulher, os mais dependentes dirão até que será a de um anjo.
Num tempo em que o cantar por vezes assume aspectos tão secundários, Antony assegura de novo o sentido único da grande arte de cantar, com uma voz forte e vibrante.

A sua imagem obscura e misteriosa, aliada ao seu mundo de androginia e ambiguidade transformaram-no numa nova " diva " do Pop. Tudo isto faz dele o homem que em conjunto com a sua banda enche salas de espectáculo pelo mundo inteiro e criou ao longo destes últimos anos um clube quase infinito de fãs que se rendem à voz com alma e ao seu olhar melancólico.

O meu encontro com Antony foi puramente ocasional e fortuito. Nem sequer sou uma grande especialista em musica e nunca tinha ouvido falar dele. No entanto, fui. Entrei no Coliseu, sentei-me e aguardei. De repente a sala ficou escura e no palco uma figura vestida de negro com uma rede em forma de chapéu na cabeça. Silêncio total. A canção, lembro-me era triste, muito triste e as palavras fizeram-me viajar para lugares meus, impartilhaveis, noites em branco, dias sem rumos e durante o resto do espectáculo eu temi, chorei por aquilo que eu sabia serem os caminhos tortuosos dos sentidos e os percursos épicos de quem se deixa conduzir pelos sentimentos.
As emoções são lugares muito estranhos e Antony sabe que todos somos reféns dos nossos sonhos e pesadelos mais inconfessáveis. Nessa noite, sem prever, fui ouvir sons e sentir coisas. Tornei-me também dependente e já tenho bilhete para o próximo. Como ele cantou em Barcelona, todos nós precisamos de quem nos abrace, mesmo que seja de cima de um palco.

terça-feira, 14 de abril de 2009

FALAR DE CINEMA


Falar de cinema é falar de nós próprios.

7ª ARTE, maior espectáculo do mundo moderno são apenas nomes que o homem inventa para saber do que fala. Ao decalcar ou ao desviar e alterar o real, o cinema oferece-nos SONHOS e há poucos entre nós que lhe resistem. A nossa história individual pode ser contada pelos livros que lemos, pelas pessoas que conhecemos, por aquilo que fazemos ou não, mas também pelos NOSSOS FILMES. E neles os actores, para a grande maioria os não cinéfilos de profissão, assumem completo relevo: são simultaneamente humanos e divinos, suscitam cultos.
Estes eleitos são responsáveis pela nossa glória e pedras angulares das nossas misérias e derrotas. Basta acreditar e sonhar que é possível.


Sala de cinema. Ano de 1993. Um casal de apaixonados. Ele cinéfilo, ela leitora compulsiva. Ambos grávidos do segundo filho. O filme : A insustentável Leveza do Ser, primaveras de Praga com muitos anos e um nome : Tomás era Daniel Day-Lewis . O Tomás tem hoje 15 anos.


Uma borboleta :” papillon”. Pequena e frágil mas lutadora abençoada na injustiça. A Ilha do Diabo nunca mais foi esquecida e Steve Mcqueen também não.


No dia 29 de Junho de 2003 as luzes da Broadway apagaram-se. Homenagem à morte de Katharine Hepburn, a feminista. Mulher que viveu na vida real a história de amor censurada pelos bons costumes da época. Spencer Tracy foi o companheiro de 25 anos.


Charlie Chaplin ninguém lembra o nome. Ele é Charlot. Continua connosco. Piceni disse a seu respeito: “ Nós obedecemos ao nosso consciente ele ao seu subconsciente”.


O cinema conta histórias e as Vinhas da Ira não poderiam ser melhor contadas. Em tempos de fome, Henry Fonda dá o rosto à miséria e ao desalento da humanidade.


Maria Callas nunca pensou que ao gravar o disco, anos mais tarde um homossexual vítima de sida iria dançar a sua música agarrado a um tubo de soro. Tom Hanks chora, nós não. Apenas um nó na garganta que não se apaga mesmo quando o filme termina.


Tommy-Lee-Jones, o Durão, polícia destemido. Por mim recordo o seu rosto musculoso e o seu olhar no momento em que vê o filho morto. Está tudo dito. Não são precisas palavras.


Como Susan Sarandon quando decide pisar o risco e arriscar tudo em Thelma e Louise ou olha para o condenado à morte como se visse a própria humanidade. A ternura amarga dos seus olhos falam sempre por ela e por nós.


Mexicano, aspecto rude, parece sempre saído de um romance do Hemingway. Mas não, em Zorba ele dança nu na praia, a sua Sistaki e a nós apetece-nos abraça-lo e cantar também.


Com o William Hurt aprendi que uma dispensa pode ser arrumada por ordem alfabética.


O John Travolta leu-me das mais belas histórias que o cinema pode ler : Uma canção de amor.


Por fim, descobri que no quarto da Marie Antoniette existiam vários pares de ténis Old Stars.

Dustin Hofman mostra ser pai e Merly Streep escolhe ser mãe. O filme é Kramer contra Kramer e é impossível esquece-lo.


Almodovar. Pedro Almodovar, realizador, não actor.” Hable con ella”, diz Benigno. Falar com elas e com eles também, não é fácil mas não é impossível. Tentem, senão nunca vão saber o que elas e eles querem dizer e elas e eles têm muitas palavras para dar.


Era uma vez na América. Talvez o filme da vida de muitas pessoas. Aprende-se com ele a tristeza e a traição da amizade, mas também o amor e a justiça. Aprendemos a vida dos homens. De Niro é o actor perfeito, quase irreal e nós rendemo-nos incondicionalmente.


Quem não pensou ir buscar a velha bicicleta à arrecadação e guiar que nem um louco rumo a uma lua com um amigo secreto, não viu ET, o filme que mostra o melhor de nós. Spielberg faz isso muitas vezes. Não é um homem comum. Vê mas sobretudo sabe OLHAR e CONTAR.


Milk, bem na memória das pessoas. Sean Penn, tee-shirt branca, punho erguido. Manifestação pelos homossexuais. Sentada na cadeira do cinema, quis levantar-me e juntar-me a ele. Esta capacidade de empatia, de sentir o que nós sentimos e de olhar para um homem em que se acredita, tem Penn dentro e fora do palco. Aliar o génio à humanidade do homem, é um feito que nunca é demais aplaudir.


Voando sobre um ninho de cucos. A loucura. Jack Nicholson. Não há nada que mais se possa dizer quando o caos é caótico e a perfeição é perfeita.


Por fim que dizer de Al-Pacino. Não sei, só sei que para mim é o tal, aquele que está mais perto das estrelas que os outros todos. Dizem que tem os olhos mais tristes do cinema, se calhar é isso. Mas também já lhe vi os sorrisos mais belos e os olhares mais tirânicos. Por mim, quando ele morrer, irei colocar uma gravata preta, porei o meu melhor perfume e dançarei o ultimo tango até que o dia não nasça nunca mais.


Obrigado, Cinema… Paraíso.

domingo, 12 de abril de 2009

BROWNS IMAGINÁRIOS

Imagine
John Lennon

Imagine there's no heavenIt's easy if you tryNo hell below usAbove us only skyImagine all the peopleLiving for todayImagine there's no countriesIt isn't hard to doNothing to kill or die forAnd no religion tooImagine all the peopleLiving life in peaceYou may say,I'm a dreamerBut I'm not the only oneI hope some dayYou'll join usAnd the world will be as oneImagine no possessionsI wonder if you canNo need for greed or hungerA brotherhood of manImagine all the peopleSharing all the worldYou may say,I'm a dreamerBut I'm not the only oneI hope some dayYou'll join usAnd the world will be as one



sábado, 11 de abril de 2009

MATEMÁTICOS E FILÓSOFOS.


A menina Russa vem de longe. De fora vem também o rapaz Brasileiro que dorme na calçada da rua. Os olhares de reprovação nascem dos seus iguais :
Do homem velho que mora na esquina da praça de Praga.
Do Francês que um dia julgou ser poeta e abraçou a rua por liberdade.
São eles que querem reprovar o estar de fora. Nas crianças custa sempre mais.
Dos pés ninguém pergunta de quem são. O papelão e o cartão são as armas mais eficazes para o anonimato, que só a noite irá revelar.
As cruzes, essas são verdadeiras e recentes. Paris, o ano passado. Frio intenso e morrem mais sem abrigos do que o “ habitual”.
Por ultimo o olhar de quem está distante. Apenas ficam perto de nós na televisão. Campo de refugiados. Condição essencial de carência absoluta de humanidade.

Quem vê olha para o lado
Tapa os ouvidos ao outro
Que não fala
Para que não veja

É assim a desintegração, com duas excepções:

1ª) O integrador acontece nas ciências exactas. Trata-se de um aparelho eléctrico ou mecânico que efectua simplesmente a operação matemática da integração.

2ª) Quanto ao Integralismo não passa de práticas doutrinais integrais. Durante os séculos todas elas apelaram a novas mentalidades.

SEREMOS MATEMÁTICOS OU FILÓSOFOS ?

sexta-feira, 10 de abril de 2009

oLHARTE


alexandra lisboa, XFM

oLHA A ARTE NA PRIMAVERA.
vERDE COMO O VESTIDO PINTADO DAS CORES DE ARCO-ÍRIS.
oLHAR ... ARTE E NÃO TER HORÁRIOS PARA OLHARTE.
sÁBADOS CONTEMPORÂNEOS E TEMPORÁRIOS
oLHARTE SÓ NA HISTÓRIA E NA ARTE DO OLHARTE.
oLHARTE NA ARTE
a OLHARTE E OLHARTE SEMPRE NA PRIMAVERA DA ARTE

quinta-feira, 9 de abril de 2009

os migrantes migram


os migrantes
migram
onde a nova terra começa
o sol brilha como um carrossel dourado

das profundezas da terra eis que chegam os homens
depois virão mulheres e crianças
lentas colunas de trabalhadores
são os migrantes

trazem miséria no bolso e trocam a luta por trabalho
recolhem-se em barracas feitas de lata
as mulheres comem peixe frito
os homens bebem vinho de garrafas sem rolha
as crianças arrancam fraldas esquecidas e putrefactas

os homens morrem num cemitério sem fim. Longe
as mulheres e as crianças também
a terra é castigada com os uivos dos que ficam

os homens trabalham, as mulheres também.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

esmeraldaabril2009



prédio alto e estreito. o INVERNO TRAZ A CHUVA DA ROUPA MOLHADA
CASA com 2 quartos e uma casa de banho que também é cozinha.
esmeralda, mãe, 79 anos, pensionista, : assofada num sofá perto da janela
luísa : filha, 35 anos, manicura e desempregada, dobrada no café da rua
mário : companheiro de luísa, 27 anos, biscateiro e desempregado dedicado
rui : neto de esmeralda e filho de luísa. 11 anos, 3ª classe desfeita 2 vezes
vanessa : neta de esmeralda e filha de luísa : 14 anos, 6º ano de desviRgem


analfabeta sabe escrever impropérios. VITUPERA COM RANCOR


eme é erre dê a …
MERDA QUE ME MIJEI OUTRA VEZ E A LUISA VAI-ME MATAR Á PANCADA


pê u tê a …
puta de vida esta, se o meu António estivesse vivo isto não era assim. Mesmo com a porrada que ELE ME DAVA, faz-me falta. eles não me faziam as coisas que fazem, AI ISSO NÃO.

cê a erre gê o ...
CARAGO PARA O BARULHO DOS DISCOS DA RAPARIGA, NEM OUÇO A NOVELA


efe o esse gê a - esse e ...
FOSGA-SE QUE O PUTO JÁ ME FOI OUTRA VEZ AO PORTA MOEDAS


NÃO SABE LER E ESCREVER.SABE OUVIR, … OVIRE ..., Ó U VÊ I ERRE.

IMPROPÉRIOS SÃO TAMBÉM CÂNTICOS RELIGIOSOS NA SEXTA-FEIRA SANTA.

BOA PÁSCOA,
IMPRÓPRIA////MENTE, ULTRAJANTE ////MENTE, INJURIOSA////MENTE

ASPERAMENTE, INDECENTEMENTE INCONVENIENTE/////MENTE.!

sexta-feira, 3 de abril de 2009

LUGARES FELIZES



Ela sabia que não devia , mas a insistência do outro levou-a a dizer que sim, que iria. As ruas eram as mesmas , tudo estava igual, apenas a separava daquele lugar mais de trinta anos.

As árvores da rua debaixo continuavam a fazer de concha para proteger os passeantes do calor e do sol do verão. Fechou os olhos e viu um balde e uma pá, uma toalha de praia, a mão da mãe na sua, os primeiros mergulhos aprendidos ao domingo com o pai.

Mais acima o caminho da casa. Da casa, do banho, do almoço, da sesta obrigatória, do lanche e das brincadeiras com o irmão. Da casa onde ficava o quarto de vestir da tia, com as caixas de sapatos, os chapéus de cetim, as bolsas de veludo, e os vestidos elegantes de outros tempos que vestia.

Da casa da Ana, boneca de loiça e corpo de serradura de bolinhas azuis que pertencera à avó.

Dos países imaginários, com mapas construídos pelo tio e dos índios guerreiros na busca da verdade e da justiça. Nunca eram maus esses indios.

Da casa onde aprendeu a revolução francesa, qual heroina romântica a discursar numa praça. Onde bebeu chá com Mao Tsé Tung e acreditou sermos todos iguais. E por fim na idade do amor deixou-se apaixonar pelo sorriso do homem mais bonito do mundo : Che e sonhou ser sua companheira e ir com ele ajudar todos os desprotegidos e oprimidos desta e doutras terras.

Tudo isso estava lá, no caminho da casa. A casa apenas restava nas memórias dela. As pessoas mais velhas já tinham partido. O Mao e o Che também e os ideais tinham dias. De repente num imenso dia de primavera sentiu-se rota, triste, de uma tristeza profunda. Sabem, aquela que não tem lágrimas e que amarga a alma.

Não devia ter voltado ali. Fora lá demasiado feliz.

Nunca devemos voltar onde fomos felizes.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

RUGAS


Trinta anos, Quarenta anos, Cinquenta anos. Parabéns a você e descobrimos que finalmente se calhar não faz assim tanta diferença. Ou fará ?

Hora e meia de almoço de uma super mãe trabalhadora. Meia hora para ir e voltar, 90 minutos para compras e outras necessidades, tipo lavandaria, farmácia, sapateiro, etc, e dez minutos para comer uma sopa e um rissol, qualquer coisa dietético e com pouco valor calórico.

Centro Comercial. Nesse dia a compra é um verniz das unhas. Uma daquelas mega lojas de venda de perfumes resolve a questão. De caminho compra-se também um baton, não que faça propriamente falta uma vez que é quase da mesma cor dos 6 ou 7 existentes em casa.
Mas este não é bem da mesma cor e como está a chegar a primavera faz falta definitivamente.

Estas empregadas são tudo menos conhecedoras de perfumes, maquilhagem e de cosmética. No entanto sabem a regra e nunca a esquecem. De acordo com o valor da compra juntam no saco do cliente uma amostra de um perfume ou de um creme, assim como um agrado. Ou um grande desagrado como passo a contar:

De repente o mundo que pensava imperfeito apenas por outras razões,muito mais importantes, revelou-se brutal, abrupto, selvagem, animalesco e tudo devido à simples frase :

... Aqui está. Leva também estas duas amostras que são muito boas para as RUGAS ....

Muito sinceramente já não ouvi o resto. RUGAS, quem disse que eu tinha rugas que precisavam de cremes tão urgentemente ?

O resto da tarde foi passada a inquirir, tipo mesmo inquisição se achavam que eu tinha mesmo rugas A cara das pessoas foi elucidativa. O mais simpático que obtive foi serem provocadas por demasiado riso e que gordinha como era até tinha sorte, notavam-se menos.

Estava fora de questão deixar de rir. Quanto ao ser gordinha, alguma vantagem teria por ser gorda, detesto os inhas e os inhos, especialmente aplicados à minha pessoa.

No entanto a derrocada final ainda estava para vir. O marido concordou que de facto já havia no meu rosto uns traçosinhos (de novo os inhos) e que isso é normal mas que não ficava pior por isso. Disse mesmo, não compreender razão de tamanho alvoroço.

Porque será que os homens só sabem utilizar a regra da retórica politica nas empresas .
Uma mentira inocente também não faz mal a ninguém, sobretudo para quem geneticamente está capacitado a isso por nascença e convicção .

Pois é, rugas. Não há como evitar falar delas, viver e morrer com elas.

Tipo Coca Cola, primeiro estranha-se , depois paciência ENTRANHAM-SE.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

ROUGE

"Sitio dos Outros"
" A Democracia na Arte"

"Desviver"
" Arabesco"




"Entre palavras"




"Rouge"




Alexandra Lisboa. XFM
Exposição de Pintura : Évora , Palácio do Vimioso, Março, Abril 2009


Este ROUGE, realça uma preocupação com as formas e com as suas disformidades.

Pelos contornos limitadores que estabelecem fronteiras entre os traços figurativos e o resto.

Neste infinito estão sempre as cores, intensas, provocadoras, irónicas, nunca casuais.

As figuras são andrógenas e propositadamente multiculturais .

As fronteiras apenas existem no nosso imaginário frágil e minimalista.

A urgência da arte resulta das nossas individualidades e da liberdade de descobrir novos caminhos.

Encontradas muitas vezes numa tela, num traço, num esboço.

Talvez num possível ROUGE.