Este é um espaço que se pretende aberto a quem goste de contar histórias e de andar nos turbilhões labirínticos das palavras e das cores como bouquês feitos de lâminas.

segunda-feira, 16 de março de 2009

ESCUTAR OS OUTROS



Diz-se que é pecado, outros dirão que é intromissão na vida alheia, a minha mãe diria mesmo que é muito feio e o meu psiquiatra pode chamar-lhe uma prática pouco saudável.

Por mim, autor desta "cuscuvilhice inóqua ", é apenas um exercício de escuta que levo com algum afinco e do qual já extrai alguns benefícios, mesmo os mais práticos como virei a comprovar.

O rigor ético que imponho a mim mesmo, leva-me a que nunca transcreva as conversas alheias e não mencione os seus autores, até porque só gosto de ouvir as conversas dos desconhecidos e não os estando a ver, de preferência ( ou seja voltada de costas para quem fala).

Então, passo a explicar :

Os cafés, explanadas, restaurantes e outros locais lúdicos são como os táxis, mesmo quem é assim para o tímido, quando acompanhado, fala e conversa das coisas mais importantes de si e e dos outros, mesmo que seja para dizer mal, isso então é fantástico, não há nada melhor que dizer mal de alguém. Ninguém fala de tratados e de cálculos matemáticos nem de teorias de psicopedagogia. Falam das coisas da gente e como tal merecem ser ouvidas, escutadas, como eu prefiro. Gosto muito do termo escutar, significa estar com = ouvir, mesmo quando escutamos o que não era suposto.

Pois agora, vamos à parte prática e vou dar alguns exemplos do que já aprendi neste, como lhe vou chamar para não ferir susceptibilidades, passatempo inofensivo :
  • Aprender a tirar nódoas difíceis.
  • Resolver os problemas para os próximos dez anos da vida Portuguesa e Mundial.
  • Receitas várias : Bolos e sobretudo de quiches que o tempo é de crise e a ordem do dia são os aproveitamentos e restos.
  • Nomes de jogadores e tácticas completas para os responsáveis e treinadores de futebol.
  • Os crimes do dia, nacionais e internacionais.
  • As miúdas mais giras dos empregos respectivos.
  • Façanhas automobilísticas e outras.
  • Expedientes de auferir rendimentos originais, tais como conhecer mulheres casadas solitárias (tenho de confessar que desta vez levantei-me e fui-me embora de imediato, sem olhar para os protagonistas de tal oficio)
  • Crises de namoro provocadas por uma diminuição de SMS.
  • Duvidas e desacordos matrimoniais contados com mais ou menos pormenor.
  • Nomes, idades e façanhas dos netos
  • Relatos de sogras e noras mais ou menos maquiavélicos.
  • receitas para emagrecer 10 Kgs numa semana com provas e podendo comer de tudo.
Enfim, estes são apenas exemplos do que se escuta quando não é suposto. Para que tudo funcione, experimentem após esta "escuta incógnita", voltarem-se para trás e verem os seus faladores, porque é a falar que nos entendemos, pelo menos ensinaram-nos assim.

Preparem-se para algumas surpresas fantásticas.

1 comentário:

  1. A foto é curiosa. Agora que deste numa de "cusquice", deixa-me dizer que quando estou em muitos desses sítios não ouço nada, mas mesmo nada. A questão de ter esse ouvido será mais feminino que masculino?

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