Este é um espaço que se pretende aberto a quem goste de contar histórias e de andar nos turbilhões labirínticos das palavras e das cores como bouquês feitos de lâminas.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

PERDER A REVOLUÇÃO


Tinha nove anos. Era a idade que tinha, nem mais, nem menos, no 25 de Abril de 1974.
Na altura revoltei-me imenso : primeiro por não ter mais idade e não poder ir para o Largo do Carmo, tendo ficado o dia em casa. Segundo, não entender como depois de tantos anos à espera, o meu pai tivesse escolhido essa data para não estar em Portugal.
Ou seja, para mim na altura perdemos a revolução, eu e o meu pai.
A história, enquanto ciência, é a única a quem reconheço o critério rigoroso de análise da vida dos homens. Aos poetas e aos artistas também. Não obstante, as histórias pessoais são as que validam os factos. E nos fervores revolucionários as pessoas, individualmente entendidas são tomadas de uma "polis" rigorosa que fazem parecer jantares familiares ou reuniões de amigos em verdadeiras assembleias de senado. A esta classe de senadores eu fui assistindo como observadora/interventora, sobretudo quando era necessário colar alguns cartazes.
Este pequeno postit não é mais do que o meu 25 de Abril. Imperfeito, incompleto , faccioso, claro que sim. É a minha história do dia em que não tive aulas porque houve uma revolução em Portugal. Do que então aprendi e mais tarde descobri enforma ainda hoje a minha forma de ver e de pensar as coisas para mim mais importantes : o valor supremo da humanidade e o bem maior da liberdade.
Os dias quando nascem de facto não são todos iguais. Aqueles que nos marcam para sempre merecem um carinho especial. Tal como D. Quixote que li alguns tempos depois. As lições da capacidade da felicidade e do sonho nunca devem ser esquecidas mesmo que não passem de utopias utópicas que perseguimos durante toda a nossa vida.

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