Este é um espaço que se pretende aberto a quem goste de contar histórias e de andar nos turbilhões labirínticos das palavras e das cores como bouquês feitos de lâminas.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

ANTONY

Lembrei-me primeiro de Kandinsky, pintor, escritor e musico russo do inicio do século. De facto se há alguém que está próximo de Antony, é ele. Entende claramente que a arte na sua forma suprema só pode ser completa se for aglutinadora de sons, palavras e cores.
Verdadeiras operas de palavras e de musicas.

No caso de Antony, a opera é a forma musical que mais se aproxima de si. Também aí existe um drama cujos diálogos são prodigiosamente cantados. No seu caso eu diria en... cantados.

Com efeito, Antony não canta BRANCO. Por isso, ou se gosta ou se detesta, nunca se fica indiferente. A sua voz pura e única mas também estranha por vezes, tanto pode ser de um homem quanto de uma mulher, os mais dependentes dirão até que será a de um anjo.
Num tempo em que o cantar por vezes assume aspectos tão secundários, Antony assegura de novo o sentido único da grande arte de cantar, com uma voz forte e vibrante.

A sua imagem obscura e misteriosa, aliada ao seu mundo de androginia e ambiguidade transformaram-no numa nova " diva " do Pop. Tudo isto faz dele o homem que em conjunto com a sua banda enche salas de espectáculo pelo mundo inteiro e criou ao longo destes últimos anos um clube quase infinito de fãs que se rendem à voz com alma e ao seu olhar melancólico.

O meu encontro com Antony foi puramente ocasional e fortuito. Nem sequer sou uma grande especialista em musica e nunca tinha ouvido falar dele. No entanto, fui. Entrei no Coliseu, sentei-me e aguardei. De repente a sala ficou escura e no palco uma figura vestida de negro com uma rede em forma de chapéu na cabeça. Silêncio total. A canção, lembro-me era triste, muito triste e as palavras fizeram-me viajar para lugares meus, impartilhaveis, noites em branco, dias sem rumos e durante o resto do espectáculo eu temi, chorei por aquilo que eu sabia serem os caminhos tortuosos dos sentidos e os percursos épicos de quem se deixa conduzir pelos sentimentos.
As emoções são lugares muito estranhos e Antony sabe que todos somos reféns dos nossos sonhos e pesadelos mais inconfessáveis. Nessa noite, sem prever, fui ouvir sons e sentir coisas. Tornei-me também dependente e já tenho bilhete para o próximo. Como ele cantou em Barcelona, todos nós precisamos de quem nos abrace, mesmo que seja de cima de um palco.

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