Este é um espaço que se pretende aberto a quem goste de contar histórias e de andar nos turbilhões labirínticos das palavras e das cores como bouquês feitos de lâminas.

terça-feira, 14 de abril de 2009

FALAR DE CINEMA


Falar de cinema é falar de nós próprios.

7ª ARTE, maior espectáculo do mundo moderno são apenas nomes que o homem inventa para saber do que fala. Ao decalcar ou ao desviar e alterar o real, o cinema oferece-nos SONHOS e há poucos entre nós que lhe resistem. A nossa história individual pode ser contada pelos livros que lemos, pelas pessoas que conhecemos, por aquilo que fazemos ou não, mas também pelos NOSSOS FILMES. E neles os actores, para a grande maioria os não cinéfilos de profissão, assumem completo relevo: são simultaneamente humanos e divinos, suscitam cultos.
Estes eleitos são responsáveis pela nossa glória e pedras angulares das nossas misérias e derrotas. Basta acreditar e sonhar que é possível.


Sala de cinema. Ano de 1993. Um casal de apaixonados. Ele cinéfilo, ela leitora compulsiva. Ambos grávidos do segundo filho. O filme : A insustentável Leveza do Ser, primaveras de Praga com muitos anos e um nome : Tomás era Daniel Day-Lewis . O Tomás tem hoje 15 anos.


Uma borboleta :” papillon”. Pequena e frágil mas lutadora abençoada na injustiça. A Ilha do Diabo nunca mais foi esquecida e Steve Mcqueen também não.


No dia 29 de Junho de 2003 as luzes da Broadway apagaram-se. Homenagem à morte de Katharine Hepburn, a feminista. Mulher que viveu na vida real a história de amor censurada pelos bons costumes da época. Spencer Tracy foi o companheiro de 25 anos.


Charlie Chaplin ninguém lembra o nome. Ele é Charlot. Continua connosco. Piceni disse a seu respeito: “ Nós obedecemos ao nosso consciente ele ao seu subconsciente”.


O cinema conta histórias e as Vinhas da Ira não poderiam ser melhor contadas. Em tempos de fome, Henry Fonda dá o rosto à miséria e ao desalento da humanidade.


Maria Callas nunca pensou que ao gravar o disco, anos mais tarde um homossexual vítima de sida iria dançar a sua música agarrado a um tubo de soro. Tom Hanks chora, nós não. Apenas um nó na garganta que não se apaga mesmo quando o filme termina.


Tommy-Lee-Jones, o Durão, polícia destemido. Por mim recordo o seu rosto musculoso e o seu olhar no momento em que vê o filho morto. Está tudo dito. Não são precisas palavras.


Como Susan Sarandon quando decide pisar o risco e arriscar tudo em Thelma e Louise ou olha para o condenado à morte como se visse a própria humanidade. A ternura amarga dos seus olhos falam sempre por ela e por nós.


Mexicano, aspecto rude, parece sempre saído de um romance do Hemingway. Mas não, em Zorba ele dança nu na praia, a sua Sistaki e a nós apetece-nos abraça-lo e cantar também.


Com o William Hurt aprendi que uma dispensa pode ser arrumada por ordem alfabética.


O John Travolta leu-me das mais belas histórias que o cinema pode ler : Uma canção de amor.


Por fim, descobri que no quarto da Marie Antoniette existiam vários pares de ténis Old Stars.

Dustin Hofman mostra ser pai e Merly Streep escolhe ser mãe. O filme é Kramer contra Kramer e é impossível esquece-lo.


Almodovar. Pedro Almodovar, realizador, não actor.” Hable con ella”, diz Benigno. Falar com elas e com eles também, não é fácil mas não é impossível. Tentem, senão nunca vão saber o que elas e eles querem dizer e elas e eles têm muitas palavras para dar.


Era uma vez na América. Talvez o filme da vida de muitas pessoas. Aprende-se com ele a tristeza e a traição da amizade, mas também o amor e a justiça. Aprendemos a vida dos homens. De Niro é o actor perfeito, quase irreal e nós rendemo-nos incondicionalmente.


Quem não pensou ir buscar a velha bicicleta à arrecadação e guiar que nem um louco rumo a uma lua com um amigo secreto, não viu ET, o filme que mostra o melhor de nós. Spielberg faz isso muitas vezes. Não é um homem comum. Vê mas sobretudo sabe OLHAR e CONTAR.


Milk, bem na memória das pessoas. Sean Penn, tee-shirt branca, punho erguido. Manifestação pelos homossexuais. Sentada na cadeira do cinema, quis levantar-me e juntar-me a ele. Esta capacidade de empatia, de sentir o que nós sentimos e de olhar para um homem em que se acredita, tem Penn dentro e fora do palco. Aliar o génio à humanidade do homem, é um feito que nunca é demais aplaudir.


Voando sobre um ninho de cucos. A loucura. Jack Nicholson. Não há nada que mais se possa dizer quando o caos é caótico e a perfeição é perfeita.


Por fim que dizer de Al-Pacino. Não sei, só sei que para mim é o tal, aquele que está mais perto das estrelas que os outros todos. Dizem que tem os olhos mais tristes do cinema, se calhar é isso. Mas também já lhe vi os sorrisos mais belos e os olhares mais tirânicos. Por mim, quando ele morrer, irei colocar uma gravata preta, porei o meu melhor perfume e dançarei o ultimo tango até que o dia não nasça nunca mais.


Obrigado, Cinema… Paraíso.

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